terça-feira, 23 de novembro de 2010

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

MAINHA





Composta no Seminário Teológico do Sul do Brasil, no dia 23/06/94, às 16:34, depois de passar alguns anos sem ver minha mãe. Ontem (14/11/2010), Mainha faleceu e está com o Pai.

Ah! Mainha,
Se tu visses a dor que me inunda o peito,
A saudade que me dilui a alma
E a vontade de chorar que destrói meu corpo,
Tu,
Certamente,
Virias até aqui e me farias companhia;
Colocar-me-ias em teu colo,
Acariciaria-me o peito até a dor passar,
Cantarias cantigas que me enlevassem a alma
E me farias dormir para poder, enfim, chorar.
Ah! Mainha,
Mas, tu não estás aqui.
Não podes ver a dor que me inunda,
Nem a saudade que me dilui
E nem a minha vontade de chorar.
Ah! Mainha,
Só queria que a dor fosse embora,
Que a saudade sumisse,
Mas, queria chorar;
Chorar muito!
Até não haver mais lágrimas.
Até não haver mais dor,
Nem saudade,
Até não haver mais nada.
Ah! Mainha,
Se tu visses as lágrimas que choro!
São lindas!
São minhas!
São tuas!
Poderia formar um lago com elas, Mainha,
Se toda a saudade que sinto
Viesse expressa em lágrimas.
Amar-te-ei, Mainha!

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

SOBRE SONHADORES



As intempéries da vida têem colocado os pés dos sonhadores no chão e dito: Não voe!
Todavia, como não voar se a essência de um sonhador são suas asas?

O POÇO

Às vezes Deus nos leva às profundezas de um poço para nos dar água limpa (João 4.11).

O VERDADEIRO ADORADOR

O verdadeiro adorador é assim: enquanto Deus o procura (João 4.24), ele procura a Deus.

ANGELA


Farol que ilumina o dia.
A luz que me irradia.
Tu és fonte que sacia
A sede deste pobre cantador,
Que adora ser escravo só do teu amor.

O ar que eu respiro e espero.
O mar que o banhar venero.
O sol que o aquecer eu quero.
Um anjo lindo que sobrevoou
Gritando o seu nome que alguém cantou:

Angela, teu nome é doce mais que o mel,
O meu destino é te cantar.
Angela, contigo estou perto do céu,
Nada nos pode separar.

A ESTRELA E OS COMETAS

A lenda da Estrela que corria atrás do Sol.

No universo inteiro reinava densa escuridão;
Parecia mesmo não haver nenhuma luz.
As trevas traziam medo, sombra e solidão;
No universo imenso nada, nada há que seduz.

A Terra aguardava ansiosa pelo intenso brilho,
Que traria consigo a linda manhã de um novo dia.
Como a mãe feliz que espera pelo filho,
A terra esperava o Sol, a trazer-lhe companhia.

Mas antes que a terra sorrisse, ou que os homens acordassem,
Surgiu uma pontinha de luz no universo a prantear.
E antes que a terra aplaudisse, ou que os homens chorassem,
Uma Estrela ansiosa aguardava a hora do Sol passar.

Paciente esperava pelo primeiro raio de luz,
Que com tamanha exuberância iluminou a imensidão.
Chorou ao vê-lo passando; não tinha jeito era uma cruz!
Aquele raio era uma flecha a ferir-lhe o coração.

De repente, outro raio, e mais outro, e assim,
Num espetáculo de luzes o Sol apareceu.
Aplacou a escuridão numa imponência sem fim,
Seu brilho parou o mundo, o universo emudeceu.

E a Estrela pequenina irradiava felicidade,
Aplaudia o espetáculo e chamava o Sol de senhor.
Coitadinha da Estrela era só simplicidade!
Onde o Sol fosse ela ia; tudo em nome de seu amor.

Ela esperava o dia em que o Sol a notasse ali,
E não se importava nem um pouco de atrás do Sol correr.
“O brilho do sol”, afirmava, “é a razão porque nasci.
E sem o sol nesta vida o melhor para mim é morrer”.

Por isso, vivia assim, correndo para tentar alcançar
O Sol, para enfim, lhe dizer o que trazia no coração.
Mas, ele era veloz, ela, então, só fazia gritar
Frases de amor que ecoavam na densa escuridão.

Tantas frases ecoaram na imensidão do universo,
Que outros corpos celestes ouviram os apelos de dor.
Eram Cometas que unânimes decidiram ver de perto
A Estrela apaixonada, que fazia tudo em nome do amor.

Viram dois brilhos velozes o universo a iluminar,
Deixando faíscas de luz, fragmentos de orgulho e dor.
Soberbo, o Sol, pois, com o seu brilho nada havia para comparar,
E a Estrela apaixonada só deixava faíscas de amor.

Os Cometas olharam atentos a Estrela que cansada corria,
A acharam tão linda e formosa; entregaram-lhe seus corações.
E choraram ao ver triste cena da Estrela e sua agonia,
O seu choro encheu toda a terra, pois, os Cometas eram muitos milhões.

Que brincadeira maldosa! Que ironia cruel!
Os Cometas apaixonados corriam sem se cansar
Atrás da Estrela que, então, corria no vasto céu,
Atrás do Sol que, soberbo, nem sequer a queria notar.

Eram muitos milhões de Cometas que estavam apaixonados,
Declarando amor eterno para aquela Estrela sem sorte.
Diziam: “Vem, um de nós ficará ao teu lado.
E os outros sozinhos, estes clamarão pela morte.

Pois, neste negro universo sem sua maravilhosa presença,
É morrer para a vida de todo, como a flor que não tem um jardim.
Para nós, ó Estrela, ficar sem você é a sentença
Que nos leva ao abismo de morte; sem fundo, sem vida, sem fim”.

Mas a Estrela apaixonada, soberba agora ficou.
Pois, milhões de Cometas clamavam: “Vem e faça feliz um de nós”.
Fingiu não o ouvir o lamento, seu caminho continuou,
Correndo e gritando ao Sol, que soberbo não lhe ouvia a voz.

Passaram-se os dias, foram-se os anos seguidos
Desta louca correria no universo desenfreada.
Na terra por um século se ouvia os gemidos
Dos muitos milhões de Cometas e da Estrela apaixonada.

Mas o amor no universo aos poucos diminuiu,
Pois, os milhões de Cometas já não eram tantos assim.
E do coração deles todos o amor que existia sumiu,
O rastro de amor que deixavam, pouco a pouco teve seu fim.

Até que um dia a Estrela apaixonada
Resolveu parar um pouquinho a sua louca correria.
Realmente, ela estava extremamente cansada,
E seu amor pelo Sol aos poucos também morria.

Parou, virou-se, lentamente olhou para trás
À procura dos muitos Cometas que lhe deram os corações.
Viu só um que muito paciente e sagaz,
Sozinho havia restado, foi mais forte que tantos milhões.

A Estrela, então, indagou para aquele Cometa paciente:
“Onde estão os teus amigos? Por que não cantam mais para mim?”
O Cometa sagaz respondeu: “Ah! Estrela, sinceramente,
Desistiram de obtê-la, certo dia seu amor teve fim.

Só eu restei neste céu e ainda estou aqui
Para lhe dizer que desista, o Sol nunca lhe amou.
Tanto tempo esperei o momento, de ver-te do Sol desistir,
Mas, é tarde, vou embora, como os outros meu amor acabou”.

“Não se vá!” sussurrou a Estrela, sem forças para gritar.
Cansada e cheia de dores, principalmente a do coração,
Sussurrou novamente ao Cometa: “Por favor, amigo, não vá!
Não me deixe sozinha aqui, detesto a solidão”.

“Amigo?!” Indagou o Cometa virando-se e partindo.
A Estrela quieta o olhou sumir na densa escuridão.
E viu dos seus olhos milhões de gotas caindo,
E também um pedaço do peito que julgou ser o coração.

Os pedaços do coração do Cometa caíram pelo planeta Terra,
E transformaram-se imediatamente em pedras preciosas,
E é na dor do Cometa que ironicamente se encerra,
A alegria de algumas pessoas que se adornam vaidosas.

Enquanto na Terra reinava a alegria de uma nova vida,
No universo a Estrela agora chorava o amor perdido.
Gritava pelo Cometa na esperança de ser ouvida,
Porém, no universo inteiro ninguém ouvia o seu gemido.

Gritou tanto a coitadinha até que perdeu sua voz.
Andou tanto a Estrelinha que suas pernas não podia sentir.
De tanto chorar secaram-se as lágrimas, e, estava a sós.
Seus olhos costumaram não ver, seus ouvidos pouco podiam ouvir.

Ela parou, ficou quieta, esperando poder sentir alguém passar.
Até que sentiu uma brisa leve e fria vinda do lado norte.
Perguntou já sorridente: “Amigo? É você? Por favor, não vá!”
“Não sou amigo. Não vou partir. Vim lhe buscar. Eu sou a Morte”.

A Morte fria e imperdoável agarrou sua mão e a levou,
A um lugar escuro e denso; lugar secreto! Um vil mistério!
Cega, quase surda, a Estrela disse: “Onde estou?”
“Na minha casa, lar da tristeza, da aflição eterna: no cemitério”.

Ela ficou ali, quieta, esperando poder sentir alguém passar.
Até que sentiu uma brisa leve, como o sussurrar de um poeta.
“Quem é você? Morte? Não me deixe só. Por favor, não vá!”
“Não sou a Morte. Não vou partir. Vim para ficar. Sou o Cometa”.